quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Daydream

Passei o dia tentando não lembrar do sonho que tive, passei o dia fugindo do que tinha para fazer. Passei o dia fugindo de mim mesma, e dessa melancolia que me acompanha quando eu mais quero sorrir. Sonhei acordada - e nisso não há nada de novo - que terei de aprender a lidar com mais e mais quilômetros de saudade, com milhas e milhas na verdade. Sonhei acordada e me vi voltando só, e ri, porque por mais que doa só de pensar, ri, porque seria o final mais  clichê possível pra essa vida de série americana que de repente aconteceu. Outros caminhos mais próximos me aparecem, e a melancolia volta disforme, me faz escrever sem rumo, digitar e apagar e digitar de novo, guiada apenas pelos sons das teclas e pelo cheiro dos meus sonhos - os que sonho dormindo e os que sonho acordada, todos devaneios, nenhum projeto ou vontade. 


Dos sonhos que sonho dormindo tenho medo, muito medo; revelam a mim mesma mais do que eu quero saber de mim, dos meus quereres, dos meus medos, dos meus arrependimentos. Parece que meus sonhos - os que ocorrem enquanto durmo - querem ir sempre ao contrário dos sonhos que vejo diante dos meus olhos abertos. Crio historinhas, sigo roteiros, dou gargalhadas com amigos que mudam de face a todo o momento. E a história que creio que ainda vou viver - e as histórias que creio que verei os outros viverem - se descortinam em meus banhos e silêncios como sessão da tarde, ocupam meu tempo e consomem minha energia, como se vivesse numa loucura. 


Quem me garante que ainda estou sã? Quem me garante que isso tudo não é uma ilusão, quem garante que eu não tenha surtado há muito tempo e viva num faz-de-conta sem fim? Quem garante que você está em controle da sua vida, e que tudo que pensa que vive está mesmo vivendo, e tudo que pensa que escolhe está mesmo escolhendo? A loucura, pelo que sempre me ensinaram, é o estado em que se acredita que se está vivendo aquilo que só existe na nossa mente. Quem garante que nossos devaneios são os devaneios, e que a realidade é a realidade, e não que o devaneio na verdade é a realidade e a realidade, na verdade, o devaneio? Mas isso são só pensamentos...


Imagem: sxc.hu

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