terça-feira, 29 de novembro de 2011

Curiosidade



Eu sou uma pessoa extremamente curiosa. A curiosidade me consome por dentro como uma pequena formiguinha que se infiltra em mim pelo dedo do pé e vai tomando conta da minha vontade e, quando menos espero, virei um formigueiro de pura vontade de saber. Estou lutando contra a minha curiosidade porque sempre que ela precisa ser sanada por uma pergunta direta, por algo que não há rede social ou google que responda, ela estraga tudo. Sim, a curiosidade é quem estraga, não eu. Sou refém dela e resistir é sempre muito difícil. Meus dedinhos coçam pra escrever “mas vem cá, como é mesmo que ....” mas eu me seguro. Eu me controlo. Eu me agarro firme na borda do colchão e espero a vontade passar. Mas ela não passa, e a morbidez da questão atiça ainda mais minha curiosidade como a um tubarão faminto, e a vontade de saber é quase maior que meu autocontrole. 


Essa coisa de se ter licença para ser enxerido mal-acostuma o vivente, faz a gente pensar que pode perguntar o que quiser para quem for, o importante é saber, ter a informação. Pertenço àquela raça maldita que pensa que tem o direito de saber, sempre, não interessam as consequências. Afinal, eu preciso saber onde me meti, não preciso? E com pegadinhas mentais engano a mim mesma e quase escorrego em perguntar “vem cá, está tudo tranquilo mesmo?”.  Perguntar ofende, ou que é pior, dá a entender o que não é. E o que era só curiosidade vira uma sentença para quem ouve a pergunta, uma declaração de que talvez você precise saber o que as coisas significam no mundo e de que suas intenções por trás daquela pergunta podem ser mais perversas ou profundas do que se está preparado para encarar. Curiosidade é um bichinho perneta com uma dúzia de olhos azuis arregalados que assustam a qualquer um e destroem a base da confiança entre as pessoas. Contudo, sem curiosidade nunca nos interessaríamos pelo que o outro é, pelo que o outro faz e pelo que o outro pode ser. Retorço-me de curiosidade, mordo os lábios e reviro os olhos, mas dessa vez escolho não saber.

Para fins de direitos autorais de imagem declaro que as fotos usadas no post não são de minha autoria e que os autores não foram identificados.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Daydream

Passei o dia tentando não lembrar do sonho que tive, passei o dia fugindo do que tinha para fazer. Passei o dia fugindo de mim mesma, e dessa melancolia que me acompanha quando eu mais quero sorrir. Sonhei acordada - e nisso não há nada de novo - que terei de aprender a lidar com mais e mais quilômetros de saudade, com milhas e milhas na verdade. Sonhei acordada e me vi voltando só, e ri, porque por mais que doa só de pensar, ri, porque seria o final mais  clichê possível pra essa vida de série americana que de repente aconteceu. Outros caminhos mais próximos me aparecem, e a melancolia volta disforme, me faz escrever sem rumo, digitar e apagar e digitar de novo, guiada apenas pelos sons das teclas e pelo cheiro dos meus sonhos - os que sonho dormindo e os que sonho acordada, todos devaneios, nenhum projeto ou vontade. 


Dos sonhos que sonho dormindo tenho medo, muito medo; revelam a mim mesma mais do que eu quero saber de mim, dos meus quereres, dos meus medos, dos meus arrependimentos. Parece que meus sonhos - os que ocorrem enquanto durmo - querem ir sempre ao contrário dos sonhos que vejo diante dos meus olhos abertos. Crio historinhas, sigo roteiros, dou gargalhadas com amigos que mudam de face a todo o momento. E a história que creio que ainda vou viver - e as histórias que creio que verei os outros viverem - se descortinam em meus banhos e silêncios como sessão da tarde, ocupam meu tempo e consomem minha energia, como se vivesse numa loucura. 


Quem me garante que ainda estou sã? Quem me garante que isso tudo não é uma ilusão, quem garante que eu não tenha surtado há muito tempo e viva num faz-de-conta sem fim? Quem garante que você está em controle da sua vida, e que tudo que pensa que vive está mesmo vivendo, e tudo que pensa que escolhe está mesmo escolhendo? A loucura, pelo que sempre me ensinaram, é o estado em que se acredita que se está vivendo aquilo que só existe na nossa mente. Quem garante que nossos devaneios são os devaneios, e que a realidade é a realidade, e não que o devaneio na verdade é a realidade e a realidade, na verdade, o devaneio? Mas isso são só pensamentos...


Imagem: sxc.hu

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Coragem?


“Achei que não terias coragem”. A frase ainda ecoa em mim. Coragem, era isso que me faltava? Faltava certeza, faltava frieza, faltava coragem. Coragem de encarar a solidão que já era minha, mas que eu fingia não existir. Coragem de encarar que isto que eu sinto está em mim e não em outro alguém, que ninguém vai tirar esta sensação de mim, apenas eu mesma. Não importa onde eu esteja, com quem eu esteja, como eu esteja, desde que eu seja feliz. Nunca pude reclamar da minha vida, sei que ela tem sido um mar de rosas em comparação ao resto do mundo. Poucos tropeços, e mudanças apenas as pensadas e aceitas por mim. Não reclamo. E por isso mesmo encaro como responsabilidade única minha ser feliz ou não. O universo me deu todas as condições de viver plena e contente, e a isso eu agradeço. 


Apenas noto que vivo em busca da sensação máxima, da felicidade suprema, da alegria que de tão grande dói. Mas enquanto eu viver assim, flanando, em paz, somente a paz me virá, nunca sensações extremas. Extremidades precisam de outras extremidades para manter o equilíbrio, e enquanto eu evitar o risco, evitar a dor, evitar tudo, nada ocorrerá. Sei que preciso aceitar riscos e me jogar ao que me é possível viver, mas minha racionalidade pede que eu resolva tudo antes de fazer. Será que algum dia as coisas estarão resolvidas? Vou ali resolver o mais concreto e esmagador atualmente, não dá para negar e realmente preciso dessa pendência acertada. Mas logo depois, não respondo mais. Juro que sumo, me deixo ir aos sabores. Juro que vou. Será que terei coragem? Desafia-me, e verás.


Para fins de direitos autorais de imagem declaro que as fotos usadas no post não são de minha autoria e que os autores não foram identificados.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Grito

Senti o grito amargo se formando pela minha garganta, e naqueles dois segundos de espera por sua saída não consegui encontrar forças para o conter. O grito me transbordou, deu forma a toda a raiva reprimida, a toda a frustração trazida por uma confirmação nefasta, a todo o horror de assistir um mundo ir para a sarjeta.
Frustração e arrependimento, arrependimento pelo reprimido, pelo que não foi vivido, pelo que se deixou passar. Passou do tempo, e muita coisa passou nesse tempo; a mágoa que não quis sentir me ataca sem piedade, se forma como uma bola gosmenta de pus e ódio externada num único grito. Um grito de raiva, pura raiva, sem dor, sem pena, somente frustração, como se uma lealdade póstuma houvesse sido traída, como se ainda fosse possível esperar ser algo do que não é. E neste dia de finados revisito minhas desilusões, saúdo o finamento do que um dia foi. Busco o renascimento, e deixo raiva, desgosto e desilusão se perderem no ar, como os ecos de um grito forte se perdem no firmamento.