quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

(Des)encanto

E de repente a gente começa a desencantar. Passa tanto tempo pensando que é melhor não iniciar a conversa que acaba sem ter o que dizer, sem ter sobre o que falar. E você se percebe apenas uma alternativa para quando o outro não tem nada melhor a fazer nem ninguém melhor a procurar. E você passa a ser digno de muito pouco, de uma mensagem entre tantas outras no Facebook, de um torpedo na fila do super para passar o tempo. Você se sente ignorado, e nem sabe mais se quer que prestem a atenção em você. O encanto passa - todo encanto passa - e fica só aquela vontadezinha de um pouco de contato, aquele costume do conforto e do calor.

Encantamo-nos com inúmeras coisas e pessoas ao longo do tempo, e são esses encantamentos que mais nos decepcionam. Prever a decepção ajuda a se ver bem onde estamos metendo o pé, mas pensar em como elas serão e quando ocorrerão antecipa o fim do encantamento. Há coisas das quais me desencanto na hora, e outras, com as quais demoro a me decepcionar - seja porque não me decepcionam mesmo, seja porque não espero demais -, e leva muitos e muitos anos para que este encantamento chegue ao fim. Mas ele chega. É pedir muito querer curtir ao máximo enquanto o encantamento dura? É pedir muito querer cegar o julgamento só por um instante para que nesse instante o encantamento não pareça ter fim?

Vou pedir para me encantar com algo pro Papai Noel, mas algo pelo qual valha a pena me encantar. Não ouso pedir um a prova de aborrecimento, acho que isso não existe, até a coisa mais interessante e incrível já inventada uma hora cansa - tá aí a Internet que não me deixa mentir. Mas um encantinho de vez em quando, um sonho, uma viagem, um filme, um alguém, qualquer coisa que encante e provoque suspiros é algo que deveria estar na lista de desejos de todo mundo. Um encantinho qualquer que dure mais do que o tédio da fila do caixa. Um encanto pelo qual valha a infalível decepção.


Imagem: sxc.hu