domingo, 26 de outubro de 2008

Do horário de verão


O horário de verão me afeta de um jeito engraçado. Não noto nenhuma diferença durante o dia, vivo sempre descompassada com o horário, não sei se deveria ser outra hora a não ser a que o relógio mostra. Mas na madrugada, meu território por natureza, sei exatamente que a hora não está correspondendo ao ciclo natural. Ainda é noite fechada e já são 6h20 da manhã. Não faz sentido porque os passarinhos acabaram de começar a se mexer, e eles fazem isso às 5h. Justamente por não me guiar pelo sol, por me conectar aos sons de quando está tudo quietinho, sem criança gritando ou ônibu passando, consigo sentir que o tempo está, por assim dizer, errado.

Eu gosto dele assim, o relógio marcando um tempo diferente daquele para qual foi feito. Acho o relógio artificial de mais para andar junto com a natureza. E nasci no horário de verão, de tardezinha, na hora e na época em que mais gosto de viver. Acertei o dia de nascer e me acostumei com o "horário novo". Fiz minha mãe ficar na cama até mais tarde e não ir à aula naquele dia. Me pronunciei só no horário do almoço, e levei a preguiça até a metade da tarde, pra nascer mais perto do pôr do sol. E provavelmente passei aquela noite acordada.

Hoje passo noites acordadas, mas evito ver o nascer do sol todo dia. Eu sei que ele está ali, mas gosto de guardá-lo para ocasiões especiais. Cinco minutos depois que o canto dos passarinhos fica impossível de não se notar, o sol começa a nascer de verdade. A cor do mundo além do vidro da porta fica diferente, um roxinho esverdeado que logo logo vira luz. E com tudo isso, minha cã dorme indiferente ao horário que os homens se impõe.