quinta-feira, 24 de julho de 2008

Do sonho e da insônia

Desde o fim de semana, mais ou menos, todos os dias sonho com famílias assassinadas. Assisto e me assusto a uma cena que se repete enquanto durmo. As caras mudam, o cenário muda, os assassinos mudam, mas é sempre a mesma coisa: dois homens de apareência bizarra matam, a tiros, uma família do tipo pai-mãe-filho-filha. Quando me acordo e penso no sonho, não me admiro. Ler A sangue frio, do Capote, antes de dormir produz esses efeitos.

Mesmo com os sonhos, só depois de 300 páginas do relato, finalmente o livro me tirou o sono. Ficar impressionada com um bom livro, chorar e me assustar é comum. Mas a frieza de detalhes do assassinato simplesmente me impede de seguir no livro ou de voltar pra cama. Fugi dessa ficção que não é ficção como se a estivesse vendo. São quase seis horas da manhã de um dia cheio e eu estou aqui, totalmente desperta, fugindo de uma obra literária escrita duas décadas antes de eu nascer. Larguei o livro vermelho que virou um punctum na minha cabeceira e corri para o banheiro.

O livro me olha. A narrativa me chama. Mas meu lado infantil de ter medo de tudo que me contam está mais forte. Acho bobo me impressionar, mas assim como a criança que vê filmes de terror ciente dos pesadelos que virão, sigo lendo o texto que, não sei por que, me atrai e me agrada ao mesmo tempo que me arrepia e me causa repugnância.

Quem aqui me lê [se é que alguém lê] tem todo o direito de pensar "como é boba, não sabe nada sobre a violência e a maldade". Eu dou graças por isso. E durmo com um dos olhos abertos.

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