quinta-feira, 29 de setembro de 2011
Temporal de São Miguel
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Matatiratirarei
Gira, gira, giramundo. O mundo quer que eu gire mais rápido que ele, mas só giro ao dançar. Danço e liberto. Evoco minhas deusas e deuses, evoco meus planetas e astros, e giro, e esqueço quem sou; cuidado a linha, ergue os braços! E gira, gira, giramundo, ou pelo menos gira esta província que Deus nos deu.
Gira, gira, embala e roda. Conhece, sente, cheira e prova. Mas por favor, me diz onde vou parar! Se era para eu ir, porque me deixou tanto acumular?
Mudo, levo tudo de volta para de onde veio e sigo além. Mas será isso mesmo? Que quereis vós-vós? Tanto fugi do anda anda, gira gira, vai e vem, e tão alegre vim aqui encontrar um pouso-caminho. Eles queriam uma princesa matatiratiratei e apareci eu. Fiquei na roda porquanto me aceitassem, e giro e giro girando enquanto outra roda quer uma jornalista matatiratirarei. Digo que sim e vou-me embora camotim? Ou digo que não, e fico aqui meu coração?
Roda roda, gira gira, e os cabelos giram no rodar enquanto os braços abrem e fecham na prática do praticar. Que quereis, vós-vós, matatiratirarei?
imagem via http://movimentococoeciranda.blogspot.com/
sábado, 24 de setembro de 2011
Pós-operatório
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
(não) Conto
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
Em perspectiva
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As velhas enxeridas vivenciaram pouco. As velhas enxeridas não dependem de idade nem de sexo, e estão dentro de cada um de nós, que também olhamos, apontamos e julgamos as pessoas. Porém, quanto mais experimentamos coisas diferentes, quanto mais desfazemos nossas próprias certezas, mais compreendemos a natureza alheia. E mais tolerantes com nós mesmos ficamos.
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
Antares
Procuro outros rincões, que tenham verdes pastos e árvores sob as quais se possam fazer piqueniques. Espalho meus cabelos pela relva, fecho os olhos e sinto o calor amarelo do sol além deles. Sempre gostei dessa sensação de ver a luz mesmo com os olhos fechados. Sorrio. Respiro fundo e adormeço. E sob a luz de Jacarecanga vislumbro uma paineira entre cortinas de voal. O verde verdeja luxurioso na floresta tropical além. Y pescaditos de oro navegam sobre nossas cabeças. Estás conmigo, pero no encuentro la parra mientras se habla en amarras.
terça-feira, 13 de setembro de 2011
Direto do olho do furacão
Pra que decidir tanto? Enquanto o tempo passa e o mundo anda, tudo e todos nos olham com olhos inquisidores que dizem “e aí? bora escolher, bora decidir”. E não contamos sequer com antenas que nos ajudem a perceber as condições do tempo e do espaço, nem mesmo uma dica sobre o clima – a lá se vão os grandes casacos passear nos braços esbaforidos. Ou será que as possuímos anteninhas invisíveis que de tão atrofiadas, de tão mal usadas, não as escutamos?
Procuro entender convergências astrais, consulto o tarô e estou quase apelando às runas. Meu par de antenas (por que sempre um par, por que não um trio para variar?) anda mal calibrado e não percebeu que ao falar de uma falta de rumo tal, estava na verdade prevendo a chegada de outros rumos ainda. Se não os ter me angustiava, conhecê-los me leva ao surto. Não ter opções é muito ruim; ter muitas opções com diversas e múltiplas combinações possíveis é enlouquecedor. E o maldito cérebro que adora se guiar pelo coração, esse vênus em escorpião que me comanda, faz do furacão um buraco negro.
Ó fenda espaço-tempo, deixa me refugiar em um cantinho qualquer. Levo comigo bagagem leve, só o mais gostosinho para passar o tempo que não há, e juro que saio logo, não que tempo seja problema seu. Eu vou, e volto, num piscar de olhos, que para mim pode durar um dia, um mês, uma vida. Aquela vida paralela que não há quem não queira, saber como seria a outra alternativa, ou pelo menos a chance de em uma mesma vida vivê-la duas vezes.
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
Passa, passará
De vez em quando eu vejo que a vida passa rápido de mais pra eu ficar esperando ela acontecer. Tenho dificuldade em me convencer de que planejar, esperar, aguardar e aguardar, sonhando com o dia em que tudo vai se resolver nada resolve. Quantos de nós queremos muito tantas coisas, mas passamos mais tempo e gastamos mais energia nos auto-sabotando do que indo atrás do que queremos – mas sabemos o que queremos? Estará claro e ajustado nosso foco?
Fico em um paradoxo entre me deixar levar e tomar as rédeas. Às vezes me deixo levar de mais pelo passar dos dias, e não tomo o controle dos rumos para os quais vou. Agarro-me a ideias de que cuidar dos detalhes da viagem é ter o controle dela. Não é, é perfumaria, sei disso, mas por tempos ignoro. Outras vezes, quando decido tomar a direção, minha inexperiência em traçar rumo próprio me faz meter os pés pelas mãos e encontrar um poste, um muro, um desfiladeiro em minha frente. Outras tantas e tantas, deveria simplesmente aproveitar o momento e ir. Fiz isso algumas vezes, e vim parar em pastagens nunca conhecidas. Talvez por só me deixar flanar em ventos violentos, fico com medo das brisas que passam, e me agarro forte na soleira da porta e me permito só de longe sentir os ares renovados passarem. E passo a vida. Até quando? Passa-passará, a de trás ficará, e eu não quero ficar pra trás, não quero ficar presa entre os braços da minha própria vida. Quero agarrá-la pelas mãos e levá-la comigo, ao meu lado, em mim, e por mim. Por meus próprios pés. Por uma vontade consciente. Porque quem de trás fica e vai para o fim da fila precisa puxar e puxar até rebentar o elo entre os braços que agarram.
passa passará quem de trás ficará a porteira está aberta para quem quiser passar oi biborá da cruz por aqui eu passarei por aqui eu passarei uma menina deixarei qual delas será a da frente ou a de traz a da frente corre muito e a de traz ficará passa por aqui passa por ali e a última ficaaaaaaaaaará
Imagem: reprodução da tela de Andrea Honaise.