É claro que havia de chover. São Miguel no 29 sempre nos
banha depois de uma longa tarde de calor. Lembro os aniversários do meu primo,
sempre muito divertidos, e invariavelmente chuvosos. Sabíamos todos disso, e
por isso brincávamos feito doidos enquanto o temporal não vinha, usávamos o
muro baixo entre o pátio da frente e o vizinho como rede de vôlei – assim as
gurias também poderiam brincar – e corríamos entre brigadeiros, bolas e flashs.
E o temporal vinha, e todos diziam que era assim, sempre foi, no aniversário
dele. Hoje não foi diferente, mas eu estou longe, e já não vejo mais meu
querido irmão que foi meu melhor amigo durante anos. Porque nos afastamos tanto
de quem amamos? Porque perdemos a oportunidade de abraçar mais uma vez quem
queremos bem? Porque deixamos para depois um reencontro que pode ser agora?
Sinto falta da nossa infância, e do terreno baldio onde
caçamos vagalumes algumas vezes. Sinto falta das noites de calor as quais te
associo, e os invernos frios em que nos escondíamos com o videogame. Sinto falta
de uma infância que foi minha e compartilhei contigo, e que me deu um senso de solidariedade
e nerdice sem igual. Vivíamos situações muito parecidas, origens muito próximas
apesar de desenrolares muito diferentes, e acabamos em rumos tão distantes. Mas
quanto mais eu ando, mais eu quero voltar e viver novamente aquelas tardes em
que enganávamos a chuva e torcíamos pela misericórdia de São Miguel, para que o
primeiro calor de setembro fosse aproveitado ao máximo, e que a brincadeira
durasse até não ter fim.
Meu primo Rafa e eu, num papo cabeça nos idos da década de 80.
Feliz aniversário :)
Nenhum comentário:
Postar um comentário