segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O exercício de sermos nós mesmos

Estou com vontade de me jogar ao vento e não estou nem aí se haverá alguém para me segurar. Quero sentir essa sensação, perceber a brisa, me deixar levar ao sabor do ar. Estou disposta a viajar milhares de quilômetros para passar duas horas com alguém, mas que essas duas horas valham uma vida. Estou disposta a aceitar o inaceitável, e acreditar no inacreditável, só para saber como é. Foram 25 anos jogando conforme as regras, ouvindo todos os conselhos e me preservando de todo o mal.  Criei uma base sólida de segurança e certeza para mim - agradeço, é muito bom se sentir segura -, mas sobraram tantos tijolinhos e tempo que há um belo muro a minha volta. Gosto do meu murinho, mas agora estou com vontade de sentar sobre ele e ver o movimento da vizinhança enquanto balanço meus pés, pronta a pular para a calçada ao menor aceno amigo. A casa vai continuar fechada, como convém, mas o que tem ali adiante?

Devemos agradecer profundamente por tudo que nos aconteceu até o minuto anterior ao que vivemos agora e nos fez o que somos, e eu agradeço, sempre, sempre, e muito. E justamente por tudo que vivemos e para as coisas as quais nos preparamos, o tempo todo,  que devemos nos entregar às novidades, aceitar o que está por vir, e aceitar que tudo vai dar certo, o que quer que seja o tudo, o que quer que seja o certo.

Nos jogamos com uma facilidade bárbara a um novo trabalho, a uma nova oportunidade, a um cargo, a uma posição, a um salário (pelo menos no início da carreira profissional, é só o que conheço). A grana  no fm do mês nos dá a medida, sabemos o que ele proporciona e facilmente fazemos contas que medem prós e contras. Viajamos milhares de quilômetros para um entrevista de 30 minutos, para um concurso de uma manhã. São um pequeno amontoado de minutos que definirão rumos na nossa vida, e encaramos isto com grande naturalidade e estamos sempre atrás, investindo nessa oportunidade. Por que não se encara da mesma forma nossas vontades, nossos lazeres, nossos prazeres, nossas paixões, nossos sentimentos?

Por que todo mundo tem tanta dificuldade em investir tudo por seus sentimentos, justo os sentimentos, que estão dentro da gente nos acompanham implacavelmente a cada respirar? Por que complicamos tanto e nos colocamos tantas questões antes de encarar o que queremos sentir de verdade, por que tantos porquês antes de corrermos atrás de nossa fruição? Talvez tenhamos dificuldade em ler o que sentimos de verdade, lá dentro, bem no fundo e com todo aquele contexto de traumas, sentimentos mal curados, frustrações e medos; talvez seja dificuldade em saber exatamente o que se sente com relação às coisas, ou descofiamos deles porque eles se modificam tanto, nossa, como se modificam. 

Decidi aprender a me entender e me ouvir melhor, sentir o que sinto de uma forma mais clara e simples. Está dando certo; dói, mas dá certo. Claro, tem que se abrir mão do jogo, do "não vou ligar", "vou esperar que puxem conversa comigo, não vou eu iniciar a conversa", "o que vai pensar se eu disser isso?" e todas as outras questões que nos impedem de sermos nós mesmos, ou de descobrirmos o que é ser nós mesmos. É um exercício diário, certamente, pelo menos até entrar no automático. Mas é como qualquer exercício: o resultado provavelmente vai valer a pena.

Para fins de direitos autorais de imagem declaro que as fotos usadas no post não são de minha autoria e que os autores não foram identificados.

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